Tédio Ibérico

     Ouço Ravel como quem escuta uma puta, presto mais atenção às suas belezas naturais do que às suas notas. Eu estava pronto para escrever isso em uma rede social, na rede social, se não fosse o fato de minha actual condição como membro de alto cargo de uma instituição religiosa me privasse de certos privilégios, me fadando a outros, como é notório.
     Meus dias em Salamanca por vezes tornam-se entediantes, não pelo fato de Salamanca ser entediantes, mas sim pelo simples fato de eu ser quem sou, esse preguiçoso “amante” do lar.
     Os dois quilômetros que me separam do centro e da perversão, se é que se podemos chamar o Kandhavia e o Irish Theatre de perversão, me cansam só de pensar. Mas há prostíbulos, com certeza há, mas o fato de ter que pagar para ter sexo me desencoraja, não por eu não ter condição para tal, qual membro de alto cargo de uma instituição religiosa, condição é o que não me falta, mas por um fator chamado princípios, meus próprios princípios que me diz que não devo pagar para satisfazer prazer carnal tal qual esse que a outra parte não pagou, por assim dizer, para fornecer - salvo em países mais baixos.
     Invejo Dorian Grey, sempre o invenjei, quando digo sempre quero dizer, sempre desde que o conheço e o entendo por Oscar Wilde; invejo-o mas quando surge uma oportunidade, a oportunidade, eu me pego a beleza e recuo ante a uma trans que não possui o padrão que eu pré-conceituei pelas photos do happn.
     Fosse eu membro do alto grau da sociedade elitista inglesa do tempo vitoriano, talvez me valesse do padrão de beleza da época e follaria com aquela que me desiludiu.


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